Sobre a Conferência

Numa ilha próxima da foz dos rios Tigre e Eufrates, uma missão de arqueologia subaquática levou à descoberta de trinta e cinco estruturas, na sua maioria armadilhas de pesca. Entre elas, foi possível identificar dois tipos de armadilhas e açudes em pedra, concebidas para a captura de peixe e marisco nas zonas intermareais. Um desses tipos consistia em dispositivos circulares, o outro, em estruturas lineares de diferentes formas – arqueadas, trapezoidais ou retangulares – e tamanhos, algumas chegando aos 200 metros de comprimento. Segundo se pensa, estas estruturas terão sido abandonadas no início do século vinte.

Durante as seis temporadas de trabalho de campo realizadas na ilha Failaka, no Kuwait, entre 2013 e 2019, este conjunto de armadilhas de pesca foi documentado, das estruturas mais simples até as de arquitetura mais sofisticada e complexa. Assim se percebeu que estas construções combinavam características de outras armadilhas encontradas em diferentes partes da ilha, mas também que alguns dos seus atributos são ainda identificáveis em estruturas modernas construídas por pescadores locais. O seu estudo é então um meio para reconhecer o desenvolvimento das técnicas de pesca desde o final do período islâmico até aos nossos dias.

O funcionamento das armadilhas de Failaka foi interpretado a partir de vários casos análogos das regiões da Ásia e do Pacífico, mas também de relatos orais e entrevistas com os mais velhos pescadores da ilha. Isto porque o registo do património cultural imaterial é determinante para entender e interpretar o próprio património material e tangível, acessível nos sítios arqueológicos. Através do conhecimento da paisagem marítima de Failaka, dos seus recursos arqueológicos e das atividades humanas relacionadas ao mar, os investigadores podem contribuir para a preservação dos antigos vestígios da ilha e para a preservação do seu património cultural.