Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo

CEAU

Centro de Estudos
de Arquitectura e Urbanismo

Ruptura Silenciosa

Ano de Início

2010 (Concluído)

Duração

36 meses

Investigador Responsável

Alexandre Alves Costa

Co-Investigador Responsável

Luís Urbano

Entidade Financiadora

FCT, Fundação para a Ciência e a Tecnologia

Valor do Financiamento

 162.327,24 euros

Referência de Projeto

FCT/PTDC/EAT-EAT/105484/2008 (Estudos Artísticos)

Instituição Proponente

CEAU-FAUP

Instituições Parceiras

Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema

Unidades de Investigação

Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo

Resumo

O período entre 1960 e 1974 em Portugal foi marcado, não só por relevantes acontecimentos históricos, como a guerra colonial, a emigração massiva, agitações políticas e um vasto processo de urbanização, mas também pela emergência de movimentos no cinema e na arquitectura que mudaram a paisagem cultural dos últimos cinquenta anos. Os Verdes Anos de Paulo Rocha estreou em 1963 marcando o início do Cinema Novo e o aparecimento de um novo tipo de espaço no cinema português, recentrando-o na paisagem urbana e abandonando a visão predominantemente ruralista do ambiente cultural de meados do séc. XX. Belarmino (Fernando Lopes, 1964) e O Pão (Manoel de Oliveira, 1964) confirmarão esta tendência. Ao mesmo tempo, uma inovadora abordagem da arquitectura estava a ser levada a cabo por uma nova geração de arquitectos. No Norte, Távora e Siza, sob influência do Inquérito à Arquitectura Popular Portuguesa e através de obras como a Quinta da Conceição, a Casa de Chá e a Piscina de Leça da Palmeira, tiveram um papel central na crítica ao movimento moderno, acompanhando, ou mesmo antecipando, o que se discutia internacionalmente. No Sul, Teotónio Pereira e Portas, com a Igreja do Sagrado Coração de Jesus e Pessoa, Cid e Athouguia, com a sede da Fundação Calouste Gulbenkian, não deixando de estabelecer uma continuidade, procuraram uma revisão dos mitos da "tradição moderna", experimentando uma nova e mais complexa relação com o espaço urbano - o primeiro edifício integrando a rua no seu desenho, o segundo prolongando o espaço interior para os jardins. Estes edifícios, exemplos da arquitectura que se estudará, são encenados de uma forma inovadoramente cinemática, onde o enquadramento e o movimento são elementos chave de projecto.

O Projecto Ruptura Silenciosa estudará a proximidade entre os movimentos de renovação no cinema e na arquitectura que corporizaram uma nova visão do espaço e da cidade, marcados pelos acontecimentos sociais, culturais e políticos da década de 60 e inícios de 70, em Portugal mas também internacionalmente (Pop Art, Pós-modernismo, Nouvelle Vague, Neo- realismo, etc). A investigação será feita sobre os objectos arquitectónicos e cinematográficos que estabeleceram uma ruptura silenciosa, dando um sinal das convulsões na sociedade portuguesa que levaram à revolução social e política de 1974 que fez capitular a ditadura. Cineastas e arquitectos circulavam nos mesmos meios e discutiam como as duas disciplinas se podiam influenciar mutuamente, não apenas culturalmente, mas como processos de projecto que lidam com o uso do espaço. Provavelmente como nenhum outro método de visualização, as imagens em movimento conseguem representar os espaços arquitectónicos como espaços "vividos" e "habitados". O cinema é muitas vezes encarado como um meio que, através da relação espaço/tempo, da mise-en-scène, dos personagens e do argumento, pode circunscrever importantes debates sobre a arquitectura e a vida urbana. Será defendido que as imagens em movimento têm a capacidade de criar um "sentido de lugar", fenómeno não só relacionado com a matriz da realidade física do espaço que é filmado, mas também com a relação vivencial que estabelecemos com a luz, a cor, o som, a música e a estrutura narrativa.

Apesar de ser objecto de investigação há já algum tempo, essa investigação está, no entanto, dispersa e é necessário aglutinar práticas e trocar experiências sobre as diferentes formas de abordar o tema, num fórum de discussão multidisciplinar sobre a metodologia a adoptar no estudo de duas formas de arte próximas, mas distintas. A conexão entre a arquitectura e o cinema é, assim, um campo rico para a pesquisa académica. O Projecto Ruptura Silenciosa procurará sistematizar as afinidades em torno da arquitectura e do cinema, de forma a construir uma base de trabalho comum para a colaboração entre os diferentes parceiros envolvidos. Compreenderá uma componente de investigação teórica, baseada na escrita de artigos e dissertações de mestrado e doutoramento, bem como na organização de conferências, simpósios e seminários de âmbito internacional, que contribuam de forma significativa para a formação pós-graduada e especializações na área dos estudos críticos sobre arquitectura e cinema; compreenderá também uma componente de investigação prática ou experimental, procurando reflexões inovadoras sob a forma de objectos multimédia (documentários, curtas- metragens, base de dados de texto, vídeo, imagem e som).

Ruptura Silenciosa, projecto com a duração de três anos, será um fórum para investigadores que queiram explorar a relação entre a história do espaço urbano, da arquitectura e das imagens em movimento em Portugal. O Projecto propõe aos participantes a oportunidade de partilhar reflexões a partir de um discurso fílmico sobre a arquitectura assim como uma leitura espacial do cinema, cruzando as fronteiras das duas disciplinas.

Do ponto de vista documental, será compilada e digitalizada produção relevante, mas dispersa, sobre as intersecções entre o cinema e a arquitectura no contexto português; serão entrevistados sistematicamente os intervenientes com um papel decisivo no período em estudo (arquitectos, cineastas, críticos, historiadores, académicos), entrevistas que serão publicadas em texto, áudio e vídeo; será digitalizada e catalogada metodicamente iconografia relevante respeitante à presença da arquitectura e da cidade no cinema português (imagens, frames, sequências de filmes, storyboards, desenhos, etc.) assim como iconografia da arquitectura portuguesa da época em estudo, que de alguma forma se possa enquadrar de um ponto de vista cinemático (projectos, fotografia, desenhos, maquetas), usando como fonte principal, sempre que possível, os arquivos pessoais dos próprios autores; será iniciada uma série de edições sobre a relação entre a arquitectura e o cinema em Portugal. Toda a documentação recolhida será integrada numa base de dados multimédia que se disponibilizará online. Antecipa-se que um significativo número de artigos e ensaios produzidos no âmbito deste projecto será publicado em Portugal e no estrangeiro, estimulando o interesse e os estudos académicos sobre a historiografia do cinema e da arquitectura portugueses.

Equipa

Alexandre Alves Costa (Investigador Responsável)
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto

Luís Urbano (Coordenador)
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto

Catarina Alves Costa
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto

Carlos Machado
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto

Francisco Ferreira
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François Penz
.

João Rosmaninho
Universidade do Minho

Jorge Figueira
Universidade de Coimbra

José Miguel Rodrigues
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto

Madalena Pinto Silva
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto

Manuel Graça Dias
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto

Monika Koeck
University of Cambridge

Nuno Grande
Universidade de Coimbra

Pedro Baía
Universidade Autónoma de Lisboa

Ricardo Santos
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto

Rochard Koeck
University of Liverpool

Bolsas de Investigação

Ana Resende

Ana Maria Trabulo

Bruno Nacarato

Marta Alves

Miguel Tavares

Pedro Neto

Rui Manuel Vieira