Siza Barroco
Siza Barroco
Ano de Início
2021 (Em curso)
Duração
36 meses
Investigador Responsável
Co-Investigador Responsável
Entidade Financiadora
FCT, Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Protocolo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e a Fundação de Serralves
Valor do Financiamento
119.953,09 euros
Referência de Projeto
SIZA/CPT/0021/2019
Instituição Proponente
CEAU-FAUP
Instituições Parceiras
DOCOMOMO International
Website
Resumo
“Siza Barroco” é um projecto de investigação que visa pôr em evidência a relação entre a ideia de Barroco e a obra de Álvaro Siza.
O Barroco é uma tentativa de reconstruir a razão clássica. O Barroco aspira à complexidade própria das coisas difíceis. É assim com a compreensão da trajectória dos planetas em torno do sol (afinal elíptica, em vez da mais simples e central trajectória circular que se julgava perfeita), como o é, igualmente, com a preferência por uma planta elíptica ou oval (a construção liga melhor com a oval que é mais construível, ao contrário da jardinagem que convive bem com o “método de jardineiro” no traçado da elipse; em todo o caso, o Barroco é elíptico e oval, em termos formais, mas, também, conceptuais). O Barroco é a diferença, mas, também, a repetição que permite essa diferença.
A cidade Barroca, isto é, os seus princípios, são simples na formulação: casas que se repetem alinhadas em ruas sempre idênticas (sem revelarem o eu pessoal dos seus habitantes pelo exterior) convivendo com espaços urbanos de excepção (as praças e os largos da cidade) que preparam e anunciam os monumentos que, mais tarde, depois da revolução francesa, seriam substituídos pelos equipamentos. A arquitectura Barroca não é compreensível sem esta ideia de cidade que lhe é subjacente. Por isso, a exuberância Barroca não é homogénea. Por isso, o excesso Barroco não é sempre dirigido para o excesso material, cromático ou ornamental. O excesso também se coloca ao contrário: Menos é mais (Mies).
A preferência pelo mínimo, pelo varietal, pelo monocromático ou pelo desornamentado também é própria do Barroco na arquitectura. Na sua versão mais chã, consubstancia-se pela brancura quase integral, na sua versão mais resplandecente, pela talha dourada. Enquanto tendência na arte em geral e na arquitectura em particular, o Barroco quer construir um mundo novo com base no antigo que este crê não estar preparado para o presente e o futuro que há-de-vir. É por isso que o Barroco não prescinde de uma mundividência comum e partilhável e, nesse sentido, em arquitectura, novidade e tradição renovada, são, não só compatíveis, como, sobretudo e desejavelmente, o caminho pelo qual devemos enveredar.
Alexandre Alves Costa relata como, em Moledo do Minho (Casa Alves Costa, 1964-1968), “a madeira envernizada é inesperadamente pintada em cor idêntica à das paredes. Siza justifica a decisão de última hora: «Tem desenho a mais». De facto, o detalhe não será jamais uma ocasião decorativa…” – conclui então o autor. Este episódio corresponde ao momento em que Siza, por assim dizer, “quebra o verniz” para abandonar, quase definitivamente, pelo exterior, os detalhes sublinhadamente expressivos em madeira à vista que caracterizavam quase toda a sua arquitectura anterior (com excepções assinaláveis na piscina das marés e na casa Manuel Magalhães, por exemplo). E, em alternativa, o que nos propõe Siza em direcção à abstracção que estas duas obras anteriores anunciavam? O branqueamento barroco das alhetas e dos ressaltos (os sucedâneos modernos das escócias, dos listeis e dos astrágalos) que, assim, corresponde à direcção imprimida por Siza ao seu trabalho daí em diante com uma convicção cada vez mais evidente.
Siza é, por tudo isto, cremos, inscritível na mundividência barroca. O que com este projecto se pretende é, justamente, pôr à prova esta possibilidade interpretativa que, a nosso ver, trará ganhos de conhecimento consideráveis na compreensão: do método de projecto de Siza, do seu percurso ao longo do tempo, do metamorfosear da sua obra ao longo desse tempo e da própria metamorfose dos seus projectos (dos primeiros riscos ao desenho da solução comunicada à obra), da artisticidade que coloca e exige aos seus projectos,da obsessão pelo rigor excessivo das suas soluções, do modo como na sua obra o excesso da emoção é caldeado pela razão prática, em suma, o que se pretende é uma melhor e mais profunda compreensão da arquitectura de Siza.
Cientes de que a colocação lado-a-lado da ideia de Barroco e da arquitectura de Álvaro Siza trará também ganhos de conhecimento do lado da revelação do que é afinal o Barroco, cremos, igualmente, que a investigação programada será uma ocasião particularmente fecunda para compreendermos mais e melhor o que tem sido descrito, com certa relutância do autor, enquanto “o génio de Siza”. Desdobrar – à maneira de Deleuze – a obra arquitectónica de Siza e procurar, primeiro, observá-la e, depois, dá-la a ver através de uma lente barroca é o objectivo primeiro e último da investigação proposta.
Equipa
José Miguel Rodrigues (Investigador Responsável)
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Joana Couceiro (Co-Investigador Responsável)
Escola Superior de Artes e Design
Ana Tostões
Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa
Graça Correia Ragazzi
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Hélder Ribeiro
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
João Pedro Serôdio
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
José Quintão in memoriam
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
José Fernando Gonçalves
Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores Tecnologia e Ciência
Luís Urbano
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Marco Ginoulhiac
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Miguel Araújo
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Nuno Brandão Costa
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Sílvia Ramos
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Mafalda Lucas (Research grant)
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Inês Sanz Pinto (Research grant)
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Consultores
Maria Filomena Molder
Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa
Juan Luis Trillo in memoriam
Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Sevilla
Juan Jose Lahuerta
Barcelona School of Architecture
Investigadores convidados
Mariana Sá
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Ricardo Leitão
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto